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A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

A adolescência é a ponte entre a infância e a idade adulta. Enquanto alguns cruzam essa ponte perfeitamente, outros acham isso um desafio. Na maioria das vezes, é uma mistura de ambos. No final da ponte está a autoidentidade. Vamos discutir nesse artigo a dura verdade da série Adolescência, da Netflix que foi lançada no Brasil em 13 de março de 2025, abordando de forma profunda e sensível as complexidades dessa etapa da vida.

A série Adolescência é composta apenas por quatro episódios e narra a história de Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado do assassinato de sua colega de classe, Katie Leonard. Vamos entender ao longo desse artigo as suas motivações ligadas à fatores intrínsicos e extrínsecos……

Ao longo dos episódios, são explorados temas diversos como a linguagem usada pelos adolescentes nos dias de hoje nas redes sociais como: incel, redpill, rope, truecel, blackpill, além das relações familiares, as influências negativas das redes sociais, o bullying, a questão da masculinidade tóxica e todos os perigos que vem ocorrendo no mundo digital através da radicalização online.

A maioria das linguagens expostas acima carregam cyberbullying, xingamentos ou intimidação com conotações racistas ou extremamente pessimistas, e muitos usuários dessas comunidades estão em sofrimento psíquico genuíno, embora canalizado de forma destrutiva, agressiva e hostil.

Muitos pais podem ficar chocados com o retrato da vida online dos adolescentes e o sofrimento que isso pode lhes causar. Se você está preocupado com seu filho(a), eu apresento alguns esclarecimentos e aconselhamentos através dos exemplos da Mini-Série Adolescência.

Para compreender em maior profundidade a série Adolescência,  temos que antes de tudo compreender o desafio de ser um (uma) adolescente nos dias de hoje. A adolescência é o atravessamento de uma fase complexa do desenvolvimento humano para se chegar ao final desse período com uma sensação de saber quem se é ….para assim se poder alcançar a autoidentidade, a autoaceitação e a estabilidade emocional para tocar uma vida funcional na fase adulta. Ok?

As qualidades intrínsicas construídas pelos  jovens adolescentes, as suas experiências, o ambiente em que crescem, os modelos referenciais em suas vidas, a turbulência emocional que vivenciam e a quantidade de orientação consistente que recebem dos pais; contribuem para ajudá-los a fazer essa jornada com sucesso.  Mas vamos agora nos concentrar novamente no enredo da série Adolescência…e vermos o que aprendemos com ela….e o que pode ter faltado à Jamie…

 Temas Centrais da Série Adolescência e Reflexões

Para os Pais:

  • Relações Familiares e Comunicação

A série Adolescência da Netflix, destaca a complexidade das relações familiares, especialmente dentro do contexto exibido no drama, que nos mostra um evento traumático como o assassinato de uma garota adolescente cometido por outro adolescente que era seu colega de classe.

A história dessa série ilustra o casal Eddie e Manda, que enfrentam a difícil tarefa de conciliar o amor incondicional pelo filho adolescente de 13 anos que matou a amiga de escola que também era uma adolescente como ele. Esses pais em profundo sofrimento confrontam a possibilidade de terem culpa num crime impactante cometido pelo filho de 13 anos.

Essa dualidade de sentimentos que esses pais vivem, de amor e de culpa,  ressalta a real importância e necessidade da comunicação aberta e honesta entre pais e filhos no mundo contemporâneo.   

“Adolescência”  realmente sugere que, mesmo em famílias aparentemente funcionais, podem existir lacunas e sombras significativas na compreensão mútua entre todo o grupo familiar, enfatizando a necessidade dos pais de crianças e de adolescentes a estarem sempre muito atentos às vidas e às emoções de seus filhos.

Assista a A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

  • Influência das Redes Sociais e Radicalização Online

A trama da mini-série Adolescência acende para todas as famílias um farol vermelho de perigo, ao abordar de forma contundente como as redes sociais podem servir como terreno fértil para a disseminação de ideologias prejudiciais e tóxicas aos adolescentes que ainda estão em formação. Eles realmente podem virtualmente adentrar uma “terra de ninguém e violenta” e serem sequestrados….mentalmente!!!!!!!!!

Jamie, o menino adolescente central da trama, é retratado como um jovem de 13 anos fortemente influenciado por comunidades online tóxicas, especificamente associadas à subcultura “incel” (celibatários involuntários), que propagam visões misóginas e podem incentivar comportamentos violentos. Mas qual é o sentido das palavras “incel” e “misoginia”?

DEFINIÇÕES:

  • Misoginia:
Ódio, desprezo ou preconceito contra as mulheres. A palavra vem do grego: “misein” (odiar) + “gynē” (mulher), e pode se manifestar de várias formas — algumas muito explícitas, como violência ou discursos de ódio, e outras mais sutis, como a desvalorização da opinião feminina ou a objetificação da mulher.
  • Incel:
Involuntary celibate, ou “celibatário involuntário”. Alguém que, segundo essa ideologia, deseja relações sexuais ou amorosas mas é sistematicamente rejeitado pelas mulheres. O termo inicialmente tinha uma conotação neutra, mas hoje está fortemente associado a grupos online com discursos misóginos dee ódio às mulheres.

Alguns estudiosos analisam a sub-cultura incel como parte de um fenômeno social mais amplo de crise de masculinidade, com isolamento social e efeitos nocivos da hiperconectividade virtual.

Ao mesmo tempo, muitas plataformas online já compreenderam como esse dano mental pode prejudicar os adolescentes e a sociedade em si,  e já baniram comunidades incels justamente por elas incitarem ao ódio e incentivarem a violência.

Tudo o quem acontecendo é um forte alerta para os perigos da radicalização digital e ressalta a importância dos pais monitorarem e dialogarem sobre o conteúdo que seus filhos consomem na internet.

  • O que é Realmente a Subcultura INCEL?

A subcultura “incel”, abreviação de “involuntary celibate” (celibatário involuntário), refere-se a uma comunidade predominantemente online composta por indivíduos, majoritariamente homens heterossexuais que propagam a misoginia.   

Assista a Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

Eles se identificam como incapazes de estabelecer relacionamentos íntimos ou sexuais com mulheres, apesar de desejá-las. Essa frustração é frequentemente acompanhada por sentimentos de ressentimento, mágoa, raiva, ódio, misoginia e, em casos extremos, apologia à violência.

  • Muitos relatam frustrações pelas rejeições, bullying, exclusão social ou dificuldades em interações românticas — especialmente na adolescência. Isso, somado à ausência de suporte emocional ou modelos masculinos saudáveis, pode gerar raiva e sensação de inadequação.
  • Muitos incels têm uma visão muito negativa de si mesmos — como aparência, status, inteligência — e acreditam que são “geneticamente condenados” a nunca serem amados ou desejados pelas mulheres. É comum a presença de quadros mentais como depressão, ansiedade social e transtornos de personalidade (embora nem todos tenham diagnósticos clínicos).
  • Vivemos numa cultura hipervisual, em que aplicativos como Tinder priorizam aparência. Isso reforça a ideia de que só “os mais bonitos” são os escolhidos. Os incels, ao não se sentirem dentro desse padrão, concluem que estão automaticamente excluídos e portanto rejeitados.
  • Em vez de lidarem com a dor emocional, insegurança e frustração de forma construtiva, muitos incels adotam teorias fatalistas e misóginas que culpam as mulheres (ou a “sociedade”) por sua solidão, rejeição.

  • O que é a Tal da Regra do 80/20 dos Incels?

    A “regra 80/20”, segundo os incels, afirma que:

    80% das mulheres estão interessadas apenas nos 20% mais atraentes dos homens.

    Eles acreditam profundamente que a maioria das mulheres só quer se envolver com 20% dos homens que são os“Chads” (os homens mais bonitos, mais ricos ou mais populares), e que os 80% restantes dos homens são eles, ou seja, os ignorados, os descartados ou usados apenas como amigos ou provedores.

    Essa ideia é inspirada no Princípio de Pareto, que é uma regra econômica que diz que 80% dos resultados vêm de 20% das causas — mas entenda que  os incels a distorcem completamente para aplicá-la ao “mercado sexual”. Ok?

  • Origens e Evolução da Subcultura INCEL

O termo “incel” foi cunhado primeiramente na década de 1990 por uma mulher canadense conhecida pelo pseudônimo de “Alana”, que criou naquela época  um fórum online para discutir experiências de solidão e dificuldades em relacionamentos.

Inicialmente, o espaço criado por Alana era inclusivo e voltado para ambos os gêneros. Contudo, ao longo dos anos, a comunidade incel evoluiu para um grupo predominantemente masculino, com discursos cada vez mais misóginos e hostís.

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy4l5np5qe8o (Leia esse Artigo)

  • Crenças e Narrativas Comuns da Subcultura INCEL

Como já pontuamos, os membros da subcultura incel frequentemente compartilham uma visão de mundo pessimista e fatalista em relação às suas perspectivas românticas e sexuais. Essa dor psiquica os transforma em seres hostís, raivosos e vingativos.

Algumas das crenças e terminologias que os incels usam e que são mais comuns:

  • “Chads” e “Stacys”: Termos pejorativos usados para descrever homens e mulheres considerados atraentes e bem-sucedidos nos relacionamentos amorosos e sexuais.

  • Determinismo Biológico: A crença de que fatores genéticos e características físicas determinam irrevogavelmente o sucesso ou fracasso nos relacionamentos amorosos e sexuais.

  • Misoginia: Uma visão extremamente negativa e, muitas vezes, odiosa em relação às mulheres, culpando-as pelas dificuldades românticas e sexuais dos incels.

  • Ideação Violenta: Embora não seja universal, há casos em que membros da subcultura incel,  expressam ou glorificam atos de violência como forma de vingança contra a sociedade e especialmente contra as mulheres.

Impacto e Casos Notórios da Subcultura INCEL

A subcultura incel ganhou notoriedade devido a vários incidentes violentos associados à indivíduos que se identificavam com esse movimento.

Um dos casos mundiais mais conhecidos é o de Elliot Rodger, que, em 2014, matou seis pessoas em Isla Vista, Califórnia, deixando um manifesto público detalhando seu ressentimento em relação às mulheres e a sua profunda frustração sexual.

Conheça o Caso: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy4l5np5qe8o

Esse e outros incidentes similares chamaram a atenção para os perigos potenciais associados às comunidades online que promovem ideologias tóxicas, misóginas e violentas.

  • ​Considerações Para Reflexão sobre Subcultura INCEL

A subcultura incel definitivamente representa um fenômeno da internet muito complexo e que reflete questões mais amplas relacionadas à gênero, sexualidade, saúde mental e o impacto devastador das comunidades online.

Embora nem todos os indivíduos que se identificam como incels sejam violentos ou promovam ideologias extremistas, é crucial reconhecer e abordar as narrativas mais prejudiciais que emergem desses espaços para poder prevenir potenciais danos na formação dos jovens adolescentes,  do contexto da sociedade e consequentemente das mulheres.

  • Masculinidade Tóxica e Pressões Sociais

Jamie, o personagem do adolescente de 13 anos na mini-série Adolescência, enfrenta expectativas conflitantes sobre o que significa “ser homem”, muitas vezes internalizando comportamentos agressivos como forma de afirmar sua identidade masculina.

A série convida os pais a refletirem sobre os modelos de masculinidade que apresentam aos seus filhos e a importância de promoverem uma compreensão saudável e equilibrada do que é ser homem.

Agora…..Vamos Entender Aquela

Sessão de Terapia Irrealista!!!!

No episódio 3 da mini-série Adolescência,  o adolescente Jamie está preso num Centro Juvenil de Custódia e ali ocorre a  última sessão entre Jamie e a psicóloga Briony Ariston antes dela terminar o parecer psicológico que será entregue à Justiça.

Vale lembrar que essa mesma psicóloga já havia o visitado anteriormente, mas a série nos mostra somente essa última sessão com o adolescente. Tenho questões importantes para pontuar sob o meu ponto de vista profissional….

Minha Observação Profissional: Como psicóloga,  achei esse episódio o mais difícil de acreditar; pois não tenho certeza se os roteiristas consultaram um psicólogo de verdade sobre a precisão desse cenário terapêutico que foi construído para a série. Eu creio que não….e explico para vocês…

Primeiro, você como psicólogo(a) jamais levaria a bebida favorita do seu cliente numa sessão, especialmente uma bebida quente como foi apresentado na cena, pois nessa condição correria o risco dessa bebida ser jogada no seu rosto ou corpo pelo adolescente.

Tanto é, que em algum momento de raiva intensa ele realmente joga a bebida quente, felizmente no chão. Aquele sanduiche caseiro com pikles que é um ingrediente que ele não gosta,  também não seria feito e entregue ao paciente. Sai do padrão formal daquele contexto absolutamente sério e profissional.

Em segundo lugar, quando a psicóloga saiu da sala para se recompor diante da agressividade do adolescente, ela deixou ali sua bolsa com todas as anotações e o seu casaco também,  justamente num contexto absolutamente disponível para ser mexido, acessado pelo adolescente.

Geralmente essa não é considerada uma boa prática clínica ou uma prática segura, principalmente pela custódia policial de um detento, mesmo que seja um garoto de apenas 13 anos mas acusado de assassinato. Todo cuidado é necessário.

A psicóloga ter saído e deixado naquela sala da terapia a sua pasta com todas as suas anotações sigilosas sobre o caso do garoto e todos os seus papéis documentais sobre a personalidade dele, especialmente quando Jamie já havia exigido naquela mesma sessão e de forma extremamente rude para ver as anotações dela, é pensar que ela deixou disponível algo extremamente confidencial que poderia ter sido indevidamente apropriado por ele.

Da mesma maneira, naquela bolsa certamente havia pelo menos uma caneta, e que naquela condição teria todo o potencial de ser achada por ele. Uma caneta pontiaguda poderia colocá-la novamente em perigo pois ela  dialogava com um suposto assassino….e que naquela sessão já expressava uma intensa e incontida raiva….

Terceiro, não seria permitido por nenhum sistema judicial que um psicólogo ficasse sozinho com Jamie — que ali é acusado de assassinato, afinal, ele é mostrado na trama (assim como seu pai) como alguém que tem fortes problemas de regulação emocional.   Seria uma irresponsabilidade do Estado.    Assista A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

Quarto, havia da parte da psicóloga inúmeras perguntas delicadas sobre sexualidade, masculinidade,  e ali a maneira que ela o abordou para a realização de uma avaliação psicológica….. transmitiu uma certa inadequação na forma como ela construiu o diálogo….

Por fim, o adolescente não ter concordado com o número de sessões de avaliação psicológica naquele cenário terapêutico, pareceu muito estranho,  pois a série transmitiu a ideia de um menino emocionalmente vulnerável que se apegou/desenvolveu  confiança em alguém que apenas o avaliava e que não construiu nenhum vínculo ou laço terapêutico, especialmente com uma mulher na função de psicóloga. Vale lembrar que ele é um incel…e todo incel faz uma leitura muito negativa sobre as mulheres…..

Análise sob a Perspectiva Psiquiátrica:

  1. Bullying e Saúde Mental: A série Adolescência destaca o impacto do bullying na saúde mental dos jovens. Jamie, o adolescente da trama, enfrenta isolamento e humilhação na escola. Esses são fatores que podem contribuir para transtornos como depressão e ansiedade. A American Psychiatric Association enfatiza que experiências de bullying estão associadas a um risco aumentado de problemas de saúde mental, incluindo pensamentos suicidas.

  2. Influência das Redes Sociais: “Adolescência” é uma série que ilustra como as plataformas online podem amplificar sentimentos de inadequação e solidão entre adolescentes. A exposição constante à padrões irrealistas  de beleza física, status e inteligência e a busca pela validação do “outro”,  podem levar a um declínio na autoestima e consequentemente ao desenvolvimento de transtornos depressivos. Estudos publicados no Journal of the American Academy of Child & Adolescent Psychiatry indicam uma correlação entre o uso excessivo de redes sociais e sintomas depressivos em jovens. Veja abaixo a lista deles:

    • Transtorno depressivo persistente (distimia)

    • Ideação persecutória

    • Transtorno de adaptação com humor deprimido

    • Sofrimento emocional associado a traumas sociais

      O que Jamie Apresenta, então?

      Segundo análises de fontes psiquiátricas e psicológicas americanas, como Psychology Today, National Institute of Mental Health (NIMH) e American Psychiatric Association (APA), o comportamento de Jamie, o adolescente da mini-série Adolescência pode ser entendido a partir de fatores múltiplos como o que apresentarei abaixo:

      1. Isolamento social e baixa autoestima

      Jamie é mostrado como um adolescente solitário, rejeitado pelos colegas e sem uma rede de apoio. A psicologia do desenvolvimento aponta que essa fase da vida é marcada por uma necessidade intensa de pertencimento. A rejeição contínua pode gerar sentimentos de inadequação e muita raiva — não patologias em si, mas sinais de sofrimento intenso.

      2. Influência de comunidades online tóxicas (subcultura incel)

      Jamie se envolve com fóruns da internet que reforçam o discurso de misoginia, vitimização e revolta. Segundo a American Psychological Association, comunidades como a “incel” funcionam como “câmaras de eco” para indivíduos vulneráveis, exacerbando ideias negativas e, em casos extremos, influenciando comportamentos violentos.

      3. Falta de vínculo emocional familiar

      Embora os pais de Jamie estejam presentes fisicamente, a comunicação é falha. Há uma ausência de espaço emocional seguro para ele. Isso fragiliza a capacidade de qualquer adolescente nomear e elaborar suas angústias. Segundo a AACAP (Academy of Child and Adolescent Psychiatry), relações familiares protetivas são fundamentais na prevenção de transtornos mentais em jovens.


      🩺 Diagnóstico? A série não fecha questão.

      A série Adolescência não apresenta um diagnóstico clínico fechado para Jamie — o que é coerente com uma narrativa que busca mais levantar reflexões à todos que assistiram à série do que oferecer respostas prontas.

O que é Ser Adolescente Hoje em Dia?

O Desrespeito vem Sendo a Semente no Desenvolvimento

dos Adolescentes

A falta de respeito é um tema recorrente na fase da adolescência. Esse desrespeito manifesta-se em vários cenários: nas escolas, em relação à figuras de autoridade incluindo pais, professores, autoridades, policiais e profissionais de saúde mental; por meio de violações digitais como sexting ou cyberbullying e o desrespeito como uma  violência sistêmica principalmente em relação à meninas e mulheres.

Pesquisas sobre comportamento adolescente sugerem que o respeito não é algo inato, mas é aprendido por meio de interações sociais. As Teorias de Aprendizagem Social enfatizam que comportamentos, incluindo desrespeito, são modelados e reforçados por fatores ambientais. Então conclui-se que se alguém é desrespeitoso, isso foi aprendido.

Falta de modelos referenciais respeitados, exposição à figuras de autoridade inconsistentes, baixa autoestima, necessidades emocionais não atendidas e influências digitais patológicas e generalizadas, podem contribuir para uma quebra no respeito mútuo.

Assista a Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

A fase da adolescência  é vital para o desenvolvimento humano e a importância de figuras paternas emocionalmente engajadas para os meninos é fundamental.

Embora professores homens possam muito bem preencher esse papel como alternativas quando a figura do “pai” é ausente em casa, na série Adolescência, os professores homens são ineficazes ou até autoritários.

RESPEITO É ESSENCIAL NO UNIVERSO DO       ADOLESCENTE

O respeito é essencial para moldar o desenvolvimento do adolescente. Pesquisas  indicam que ambientes que enfatizam o respeito mútuo promovem a segurança emocional, a competência social e a tomada de decisões éticas.

Limites claros e disciplina justa ajudam os adolescentes a construir confiança, conexões emocionais e resiliência.

Quando o respeito está ausente, os adolescentes podem ter dificuldades com a tomada de perspectiva e a empatia, o que pode levar a um comportamento antissocial ou retraimento, bem retratado na mini-série Adolescência.

O Papel da Vergonha na Formação da Identidade de um Adolescente

A vergonha é outro tema central, que permeia quase todos os aspectos da fase dos adolescentes . Isso inclui vergonha social, como por exemplo não ter amigos ou a falta de ter uma presença  nas mídias sociais.

Existe a vergonha familiar, como ter pais bem-intencionados mas não compreensivos; pais não envolvidos. Até mesmo a vergonha gerada por colegas, incluindo bullying, cyberbullying, xingamentos ou intimidação.

Mais significativamente retratado como o motivo central e mais doloroso do assasinato que Jamie cometeu, há a vergonha pessoal do adolescente de 13 anos incluindo sentimentos da parte dele como a  falta de atratividade, fraqueza e rejeição social. No episódio 3, na entrevista com a psicóloga, Jamie expõe claramente esses pontos….

A VERGONHA E SEUS PERIGOS

Nós psicólogos sabemos que a vergonha é uma emoção poderosa e profundamente social que influencia significativamente pensamentos, comportamentos e saúde mental. A vergonha é internalizada e impacta o autoconceito de um indivíduo.

Adolescentes em geral são vulneráveis ​​à vergonha devido ao processo de desenvolvimento da formação de identidade. Quando a vergonha é agravada pela rejeição ou fracasso social, ela pode contribuir para a depressão, ansiedade e mecanismos de enfrentamento mal-adaptativos, incluindo comportamento online de risco.                                                                                                                                                                      Assista a Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

Identidade, Desrespeito, Vergonha e Espaços Digitais

Não há dúvida de que há uma ameaça externa na forma de mídia e de interações online que precisam de monitoramento adulto, de supervisão, de censura.

Para um adolescente vulnerável que está tentando negociar seu senso de identidade de uma perspectiva já falha, o escape online fornece consolo, pois ali  ele vê como um lugar potencial de se buscar validação e se envolver finalmente em sério comportamento de risco.

O fato de que a maioria dos adultos sabem pouco sobre o mundo online dos adolescentes,  significa que esses mesmos adultos são incapazes de oferecer proteção, pelo menos da maneira que deveriam.

Pesquisas sugerem com bastante fundamentação que interações online podem intensificar sentimentos de inadequação, particularmente quando adolescentes dependem do engajamento social para a construção da autoestima.

Além de saber mais sobre esse universo no qual estamos dialogando aqui, os adultos devem se envolver ativamente com os seus filhos para entender o papel dos cenários digitais, para que seus jovens recebam a supervisão e o suporte necessários.

Não é nada útil as famílias de adolescentes acreditarem que o problema ocorre somente “lá fora” em um mundo digital. Lembre-se, o mundo digital está no quarto do seu filho ou filha…..

MAS…….Algo Aiiinda Pode Ser Feito!

Embora  a mini-série Adolescência  retrate uma fatia perturbadora de adolescentes da vida moderna, essa fatia não é totalmente representativa do todo.

Certas vulnerabilidades – dentro do mundo interno dos indivíduos, das famílias, dos grupos de pares e de ambientes escolares certamente convergem para produzir os resultados devastadores retratados na série.

No Entanto, Medidas Proativas Podem Reduzir Esses Riscos em Toda e Qualquer Família….. Elas incluem:

  • Cultivar ambientes respeitosos através das escolas, famílias e comunidades enfatizando realmente o respeito mútuo por meio de modelos positivos e de orientação consistente;

 

  • Estabelecer limites claros, uma vez que os adolescentes necessitam de ambientes estruturados com expectativas e consequências claras que apoiem seu desenvolvimento emocional e social;

 

  • Envolver pais e comunidade por meio de comunicação aberta, fornecendo orientação para navegar nessa jornada de desenvolvimento complexa, garantindo que eles não recorram apenas à colegas ou figuras anônimas online em busca de orientação; que busquem especialistas para se orientarem quando for necessário;

 

  • Educar os pais  sobre como entender os riscos digitais para que assim possam monitorar, supervisionar e apoiar os jovens quando estiverem no online 

Por fim,  a mini-série Adolescência destacou na nossa reflexão, a relevância de adultos importantes na vida de um adolescente.  Esses adultos que chamo de “importantes” são aqueles que sempre estão disponíveis para atender às necessidades emocionais do jovem através da conversa amigável, da orientação sobre os perigos do abismo da internet, do monitoramento onde o adolescente navega, da indicação das más companhias online.

Os adultos devem realmente judá-los a combater influências tóxicas concorrentes com a família,  que fazem de tudo para jogá-los no limbo. A família deve capacitá-los à navegar em sua jornada rumo à vida adulta de maneira saudável desde uma idade mais precoce.

A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

  • Entenda Também: Nem Todas as Comunidades Online

                                       !!! são Negativas !!!

É importante lembrar que muitas comunidades online, assim como muitas das comunidades da vida real, podem ser espaços coletivos incrivelmente solidários e sadios. Comunidades solidárias podem oferecer a qualquer um de nós, inclusive ao adolescente, uma sensação de segurança e de conexão, reduzindo o isolamento e nos dando uma sensação de propósito grupal. Isso também existe!!!

🧠 O que é uma comunidade online positiva?

É um grupo de pessoas que interagem com regularidade em um espaço digital, com base em interesses, valores, propósitos ou objetivos em comum, sempre respeitando a diversidade (genêro, raça, corpo e ideias), os sentimentos éticos, empatia….

Pode ser uma comunidade de fãs, alunos, profissionais, pacientes, criadores de conteúdo, leitores, etc.

Comunidades online de maneira generalizada têm o objetivo de conectar pessoas com interesses ou experiências compartilhadas que podem estar geograficamente distantes, e muitas pessoas acham mais fácil se expressar online. Até aí tudo bem….

Mas…. Conteúdos e Culturas Perigosas Florescem Online!!!

Realmente, nem todas as comunidades online são saudáveis, como a mini série Adolescência nos mostra.

Embora os sites muito odiosos possam ser preenchidos por apenas alguns milhares de usuários, sua influência se espalhou para partes comuns da internet. Eles normalizam comportamentos que são prejudiciais tanto para a saúde mental dos membros quanto para aqueles afetados por seu comportamento.

E, inversamente, há um caminho claro onde, de conteúdo aparentemente inocente com o qual os jovens começam a se envolver, como material de ginástica e fitness, que misteriosamente migra para conteúdo adulto, mais sinistro baseado no ódio por mulheres, por pessoas LGBTQ+ ou pessoas de etnias diferentes.

Embora os caminhos sejam conduzidos em parte por algoritmos, os jovens também são cinicamente manipulados por sites vinculados que trabalham juntos.

O Que Realmente os Pais Podem Fazer?

Primeiro, tenha consciência e saiba realmente o que existe lá fora.  Embora eu definitivamente não encorajaria ninguém a procurar sites de ódio na internet, eu aconselho fortemente que os pais estudem o atual glossário dos adolescentes pois pode ser útil.

Aprendam urgentemente o significado  dos termos incel, bluepill, chad, looksmaxxing, entre outros, que podem ajudar vocês a entenderem as culturas online que os seus filhos podem estar expostos.

Buscar esse conhecimento ajuda extremamente para saber sobre as plataformas doentias mais comuns e entender como seus filhos se envolvem ou podem se envolver com elas.

Em seguida, converse com seus filhos sobre o que eles estão fazendo online e como isso os faz sentir. Seja curioso sobre o que seus filhos gostam nos sites e fóruns que eles visitam. Abra esse espaço de diálogo sem reprimir. Eles precisam sentir que são acolhidos em suas falas….só assim se abrirão com vocês…

Incentive-os a refletir se as comunidades das quais eles fazem parte parecem saudáveis ​​ou não….mostrem os caminhos, prepare-os do mal que essas comunidades querem fazer sobre os seus jovens…

A Mental Health America nos sugere que uma comunidade online saudável deve fazer alguém se sentir seguro, responsabilizando todos pelo alinhamento dos valores éticos de cada pessoa.

Incentive seu filho a continuar revisando se o que ele está fazendo online ainda parece certo e o que é o melhor para ele, porque as comunidades sempre mudam com o tempo. Por isso acompanhe….veja tudo de perto…

Converse com seus filhos também sobre diretrizes apropriadas para a idade deles e ajude-os a entender como eles podem mudar as “bolhas” do algoritmo se sentirem que estão vendo excessivamente um tipo específico de conteúdo.    A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

E O que a Sociedade Precisa Fazer?

Atualmente, os materiais e treinamentos dados aos professores e a natureza da educação sobre segurança online como parte da educação pessoal, social, de saúde e econômica, estão falhando com nossas escolas e com nossas crianças, levando à impactos devastadores na saúde mental.

Ensinar sobre comunidades online e segurança online de forma mais ampla deve ser um requisito legal para escolas. As escolas devem qualificar professores e crianças para que discussões relevantes, significativas e apropriadas para a idade possam acontecer na sala de aula.

O monitoramento regular do bem-estar mental de alunos e professores nas escolas daria informações vitais para entender tendências e onde ações são necessárias.

Há um movimento crescente para proibir celulares nas escolas. Concordo que atualmente os smartphones simplesmente não são seguros para as crianças. No entanto, proibi-los nas escolas resolveria apenas uma pequena parte do macro problema.

Precisamos dar aos jovens as habilidades e competências assim como a autoconfiança para navegarem na internet com segurança e reconhecendo culturas online nocivas e prejudiciais quando as virem.

Eu também creio que precisamos que o governo garanta que todo o conteúdo online mais prejudicial seja devidamente regulado e removido para sempre de toda internet.      A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

Adolescência é uma dessas grandes mini-séries de TV que envolve as pessoas por si só, mas também impulsiona um debate nacional sobre questões importantes. Você concorda?

Existem poucas questões mais importantes do que a segurança e a saúde mental de nossas crianças e jovens. Vamos garantir que essa discussão leve à ações muito necessárias para as mudanças significativas.

Questões ainda a  considerar:

  • Quem são os colegas da sua criança e de seu adolescente?

  • Quais são os hobbies, os tópicos de interesse de seu filho adolescente?

  • A sua criança fica sozinha com frequência e a internet se torna uma companhia?

  • Quem no seu ambiente doméstico é o mais especialista em internet? Deixe que essa pessoa lidere algumas sessões de treinamento protetivo para toda a família. Esse é um contexto em que crianças podem ser preparadas.

  • Quando você fez treinamento sobre segurança online com a sua família? Você já incluiu questões defensivas nesse treinamento?

Se você não tem conhecimento especializado obtenha-o de fontes confiáveis ​​e lembre-se de que o mundo online está em constante mudança e a exploração infantil está cada vez mais sofisticada, portanto, atualizações regulares são cruciais.

Muitas informações que estamos aprendendo sobre o mundo da misoginia violenta podem ser assustadoras – e quaisquer meios que usemos para compartilhar nosso conhecimento, precisamos equilibrar o compartilhamento de informações com a não disseminação do medo.

Meninos e Saúde Mental: Enfrentando a Crise Crescente

Incels, a pílula vermelha e a manosfera – São todos termos bem recentes, mas na verdade isso vem crescendo há anos. Costumávamos chamar isso de sexismo e machismo, e mulheres têm sido prejudicadas e assassinadas por homens desde o início dos tempos.

É por isso que a Violência Contra Mulheres e Meninas está na agenda de muitos governos mundiais há anos. A diferença agora é que a informação pode ser compartilhada rapidamente e geograficamente .

Na verdade, há um relatório oportuno, publicado este mês pelo Centre For Social Justice, chamado “Lost Boys” que afirma que os meninos no Reino Unido estão “ mais propensos a tirar suas próprias vidas, menos propensos a conseguir um trabalho estável e muito mais propensos a serem pegos no crime” do que as meninas.

A Dura Verdade da Série Adolescência, da Netflix

Conclusão

“Adolescência” é uma obra provocativa que desafia os espectadores a confrontarem questões complexas e muitas vezes desconfortáveis sobre a juventude moderna. Ao explorar temas como masculinidade tóxica, influência digital, bullyng, saúde mental, ódio  e dinâmicas familiares, a série oferece uma oportunidade de reflexão

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Sobre a autora:

Liliam Silva

Liliam Silva

Sou psicóloga clínica há 24 anos, ajudando pessoas a se conhecerem melhor e a superarem suas dificuldades emocionais, conflitos internos ou de relacionamento, estresse, depressão e desafios na vida profissional. O meu trabalho como psicoterapeuta(presencial e online) potencializa o desenvolvimento pessoal e profissional da pessoa que busca harmonia no seu cotidiano, qualidade de vida mental e a satisfação frente à vida.

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